Lições da Lua


A Lua está sempre cheia, mas nós não podemos ver. Ela, plena, brilha soberana sobre a Terra, sem saber que daqui nós só a vemos cheia por uma semana no mês. E talvez às vezes ela se sinta só quando vê que nem todos os olhos vertem para si, sem saber que está fina, nova, oculta pela sombra. Aos poucos, a vemos crescente, e seu encanto vai sendo descoberto lentamente até que ela esteja tão linda e tão suprema que é absolutamente inevitável observá-la. Ela está cheia, e se exibe enquanto é o centro das atenções, e acredita que é amada pelo mundo que rodeia com tanta devoção. Ela sorri esplêndida para o corpo azul que assiste a cada movimento seu, e vai minguando ao poucos quando começa a sentir-se rejeitada.
A Lua jamais deixa de brilhar, está sempre pronta para ser olhada. Espera paciente até o dia em que se torna a rainha da noite, enquanto as estrelas a confortam como damas de honra e ela as ama como filhas. Solitária, intocável, vai perdendo pedaços seus até que a venerem outra vez.
Eu queria poder vê-la plena todos os dias, consolá-la, dizer que é linda, que é sempre um presente dos céus. Dizer que ela só perde um pouco do brilho por seguir incansavelmente o planeta que tanto ama, e que não é culpa dela se não podemos vê-la de todos os ângulos. Ela é grandiosa, e nós, meros mortais, almejamos conseguir um terço da atração que ela exerce sobre o planeta.
Não se sinta só, Lua. Nós vivemos em suas lições. Tentamos dia após dia superar as fases em que estamos apagados, e muitas vezes não somos capazes de ficar cheios em nenhum momento. Nós minguamos, observamos as estrelas ao nosso redor e perguntamos por que é que não somos constantes como elas, mas instáveis como você. É uma pergunta estúpida. Toda estrela morre. Você é imortal, Lua querida. O peso da imortalidade é nunca deixar de sofrer, mas jamais serás esquecida. O brilho de milhões de anos das estrelas é efêmero perto da sua soberana existência.
A nós não cabe a eternidade. Passamos a vida buscando deixar neste chão que tanto amas uma marca que o tempo não apague e nem sempre somos bem sucedidos. Somos efêmeros e precisamos cravar a imortalidade neste pouco tempo que temos. Ajuda-nos, Lua. Ensina-nos a ter uma fase cheia, pelo menos uma vez.

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