Julia Bonisson

Você não vale um poema, um verso, a rima incompleta, uma letra para a melodia que se repete no silêncio. Não vale. Você não vale a madrugada desperdiçada, o amanhecer no sofá, a febre, o vômito, o grito, uma fotografia rasgada, um caderno queimado, os cabides quebrados. Não vale. Você não vale o corte riscando o pulso, um punhado de remédios, os CDs tristes, um solo de violão, a mão por horas sobre o telefone, a espera, um carro no poste, um soco na parede, o vaso jogado no chão, você não vale. Não vale um espelho trincado, o copo atirado, o lamento atravessando a cidade, o palavrão. Não. Você não vale o tempo esquecido, a teimosia da busca. Mas eu lhe procuro. Ainda. Eu escrevo versos, faço poemas. Eu amanheço na febre, acelero contra a parede, ouço discos arranhados, engulo comprimidos em punhados. Eu vomito. Você não sabe, não imagina. Mas eu não aprendi. Eu ainda faço tudo por alguém que não vale nada.


Xoxo, Julia Bonisson.

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